A Tradição Religiosa e a Vida Cristã

Estudo 36/2022

Por, Pastor Marcos Valerio Fernandes

Texto Para Leitura: Evangelho de Marcos 7:1-23
Introdução

O Estudo de hoje vem abordar a questão da tradição religiosa praticada e ensinada pela liderança religiosa de Israel, também conhecida como Lei oral.

Para entendermos um pouco melhor sobre o assunto, é importante lembrar que através de Moises, Deus havia estabelecido a Lei escrita para que a nação a cumprisse. Entretanto, com o passar dos anos, uma série de interpretações da Lei escrita e vários costumes adquiridos com o passar do tempo, começaram a ser integrados na vida religiosa daquele povo. Essas interpretações e costumes passaram a ser chamados de Lei oral.

A popularidade de Jesus havia crescido muito em toda a região da Galileia e numa tentativa de frear o ministério de Jesus, alguns fariseus e escribas foram enviados desde Jerusalém até aquela região, com a finalidade de se opor e desacreditar o que Jesus estava realizando.

Com esse objetivo, os fariseus e escribas acusaram os discípulos de Jesus de estarem comendo de forma ritualmente impura. Essa acusação procurava demonstrar ao povo que Jesus e seus discípulos não seguiam as Leis religiosas e, portanto, não eram tementes a Deus.

Diante dessa circunstância, Jesus se defendeu demonstrando a hipocrisia daqueles líderes e o descaso que eles tinham para com as Leis de Deus, pois seus corações estavam longe de servir ao Senhor.

Queremos nesta oportunidade analisar o texto, procurando aplica-lo a nossa vida cristã.

Por Que Os Discípulos Não Vivem Conforme A Tradição Dos Anciãos?

Vs. 5 – “Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: – Por que os seus discípulos não vivem conforme a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos impuras?”

Os fariseus e escribas viram que os discípulos de Jesus estavam comendo pão, sem primeiro observar o ritual de purificação das mãos.

A tradição religiosa determinava que antes de qualquer refeição, a pessoa necessitava de lavar cuidadosamente as suas mãos, isto é, desde o cotovelo até as mãos. Não se tratava de cuidado de higiene, mas de ritual religioso.

Nesse ritual de purificação, eles lavavam copos, jarros, metais, camas e muitos outras coisas. Quando o judeu saia de sua casa, ao voltar, realizava esse ritual, com o propósito de se purificar ritualmente do contato com outras pessoas que porventura estivessem impuras.

Esse ritual de purificação estava contido na tradição religiosa e era ensinado pelo judaísmo como sendo imprescindível para servir a Deus.

Como os discípulos de Jesus não observavam essa tradição, os fariseus e escribas questionaram Jesus, isto com o objetivo de desacreditá-lo junto ao povo.

Jesus irá responder essa questão, demonstrando que essas tradições eram meros preceitos humanos, formalismos que não traziam mudanças ao coração e nem aproximavam o homem de Deus.

A questão da tradição religiosa é ainda, nos dias atuais, muito forte em todos os seguimentos religiosos.

No meio cristão, existem muitas tradições evangélicas e católicas. Essas tradições levam apenas a prática da religiosidade e de rituais, sem, contudo, levar o homem a presença de Deus.

Geralmente as tradições se tornam fardos pesados nos ombros das pessoas, sendo que muitas delas, inclusive contrariam os princípios da Palavra de Deus.

No meio católico, podemos citar várias tradições que são muito fortes entre eles, como o uso de velas, ídolos, procissões, quaresmas, água benta, dias santos, etc.

Entre os evangélicos, as tradições também existem, como cortar ou não o cabelo, uso de determinadas roupas, tipos de liturgias dos cultos, tipos de instrumentos e músicas que podem ser utilizados nos cultos, ministério reservado apenas ao homem, etc. Tem surgido também, em alguns seguimentos, rituais com o uso de sal grosso, vassoura ungida, água ungida, etc.

Grande parte das divisões e separações de igrejas evangélicas se consolidaram em razão de divergências de tradições, usos e costumes.

Jesus vai na raiz do problema, dizendo que o formalismo religioso não possui nenhum valor, pois não honra a Deus e o coração do homem continua longe do Senhor.  

Precisamos entender que Deus não está a espera de rituais religiosos, mas de pessoas que rasguem o seu coração e o busquem de toda a sua alguma.

Deus está em busca de verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade e isso é muito mais do que uma mera religiosidade aparente ou a prática de rituais.

Jesus disse que ele veio para que tenhamos vida e com abundância. Essa vida abundante está ligada a um relacionamento íntimo com Deus, através da oração, leitura da Palavra de Deus, jejuns, vida em santidade e prática da justiça.

A Tradição Humana E O Mandamento De Deus

Vs. 8 – “—Rejeitando o mandamento de Deus, vocês guardam a tradição humana”.

Em resposta a acusação feita pelos escribas e fariseus, Jesus os confrontou, demonstrando que para manter a tradição religiosa, eles desprezavam os mandamentos de Deus.

Um desses casos, se referia ao mandamento bíblico de honrar os pais. A Lei estabelecia que se alguém maldisser os pais deveria ser punido com a própria morte. Essa punição tão severa era para demonstrar a importância que a Lei atribuía aos cuidados dos filhos para com os pais.

Entretanto, a tradição estabelecia que se alguém dedicasse os seus bens como sendo “corbã”, isto é, oferta ao Senhor, estaria dispensado de cuidar dos pais.

Corbã era um tipo de oferta voluntária ao Templo de Deus. Muitos filhos preferiam entregar determinados bens ao Templo, para evitar de ter de cuidar de seus pais. A tradição religiosa permitia essa circunstância, dispensando o filho de um dever que a Lei de Deus determinava.

Dessa maneira, a tradição dos anciãos era coloca acima da própria Lei de Deus.

Jesus afirmou que esse era apenas um exemplo e que havia muitos outros casos semelhantes.

A questão que sobressai nesse texto, refere-se que nenhuma tradição humana poderá ser tida acima da Palavra de Deus. As tradições humanas sempre existirão, mas deverão estar sujeitas ao que determina a Palavra de Deus.

Se a Palavra de Deus proíbe a idolatria, a imoralidade, a injustiça, como poderemos aceitar tal prática, mesmo que seja uma tradição social ou religiosa?

Precisamos entender, que a Palavra de Deus está acima de nossos costumes e tradições.

Isso também nos levar a pensar que as tradições e costumes da sociedade moderna não estão acima dos princípios da Palavra de Deus. Não importa qual o costume atual, se esse costume está em desconformidade com a Palavra de Deus, não deve ser seguido.

Aprendemos também, que Jesus ressaltou a importância do mandamento bíblico de honrar os pais, confrontando a prática errada de filhos que se esquivavam de cuidar de seus pais no momento da velhice.

Temos visto muitos casos acontecendo diariamente, de pessoas idosas que estão praticamente abandonadas pelos filhos, os quais sempre encontram uma desculpa para não assumirem o dever de cuidado para com eles, no momento da enfermidade ou da velhice.

Como cristãos e pessoas tementes a Deus, devemos honrar nossos pais, sabendo que isso é um ato de amor e obediência, como também, uma maneira de glorificar a Deus através de nossas vidas.

O Que Contamina O Homem?

Vs. 14-15 – “E, convocando outra vez a multidão, Jesus disse: – Escutem todos e entendam: Não existe nada fora da pessoa que, entrando nela, possa contaminá-la; mas o que sai da pessoa é o que a contamina”.

Precisamos colocar em foco que Jesus está falando sobre pureza moral e espiritual.

Como a acusação dos escribas e fariseus tinha sido de forma pública, Jesus convocou a multidão e deu a sua resposta da mesma maneira.

Em sua resposta Jesus demonstra que os alimentos não contaminam a vida moral e espiritual de uma pessoa, pois, após ser ingerido, o alimento vai para o estômago e em seguida é eliminado.

Os discípulos tinham sido acusados de comer pão com as mãos por lavar. Jesus mostra que isso não os tornavam nem mais e nem menos puros moral e espiritualmente.

Entretanto, o que sai do coração de uma pessoa é o que pode contaminá-la, pois dali procedem os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os furtos, os homicídios, a libertinagem, a inveja e muitos outros males.

Analisando essa colocação de Jesus, chegamos a algumas conclusões:

a) que nenhum alimento contamina moral ou espiritualmente uma pessoa – Como afirmou o evangelista Marcos (vs. 19) e, assim, Jesus considerou puros todos os alimentos.

b) que o coração do homem, como centro de sua capacidade moral e espiritual, deve ser sempre purificado, pois é dele que saem as decisões que nos levam a praticar todo o tipo de pecado. “A boca fala do que o coração está cheio” (conf. Mateus 12.34).

c) um coração sem Deus é um armazém de pensamentos impuros, desejos malignos, sentimentos errados e todas as sortes de influências malignas, de tal maneira, que essa pessoa sempre será impulsionada para o pecado. Quanto mais contaminada estiver, maior será a sua capacidade de se lançar no pecado.

d) quanto mais o nosso coração estiver cheio do Espírito Santo e do temor a Deus, maior será o índice de santidade que iremos experimentar, pois de nosso interior sairá a manifestação da presença de Deus que se encontra em nossas vidas.

A Palavra de Deus nos ensina que o coração do homem é perverso, por isso necessitamos da graça salvadora de Jesus Cristo, que nos concede um novo coração, habitado pelo Espírito do Senhor.

Somente assim estaremos livres da contaminação do pecado.

VAMOS PENSAR UM POUCO
  1. Você já enfrentou dificuldades para vencer tradições religiosas que te impediam de se aproximar verdadeiramente de Deus?
  2. Para você, o que é mais importante: o que a Bíblia diz ou a tradição e o costume que vem sendo respeitados?
  3. Cite exemplos de como honrar o pai e a mãe?
  4. Como poderemos manter puro o nosso coração?

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