Uma Perspectiva Bíblica sobre Jejum
Introdução

A palavra grega utilizada nas Escrituras traduzida como jejum é nesteia que, literalmente, significa não comer. Ou seja, jejum é a privação total, ou parcial que um indivíduo faz de alimentos por períodos determinados.

De acordo com o pastor Luciano Subirá (2022, p. 73, grifo do autor), “o jejum bíblico é, em essência, uma abstinência intencional de alimentos visando a propósitos espirituais. Pode incluir, em períodos menores, a privação da ingestão de água”.

O reverendo Daniel R. Hyde (2016?) o entende como uma maneira “por meio das quais nos humilhamos diante de Deus, e privamos a carne das coisas que ela aprecia, a fim de tornar-se mais disposta e obedeça com maior facilidade ao Espírito”.

A prática do jejum tem sido muito observada ao longo da história da humanidade, especialmente, entre os religiosos. Todavia, atualmente, cresce o número de incrédulos que o praticam para fins estéticos e desintoxicantes. 

Os mulçumanos jejuam, do nascer ao pôr do sol, para terem seus pecados perdoados nos dias do Ramadã. Os judeus, no dia de Yom Kipur (dia do perdão), que é celebrado uma vez por ano, não se alimentam, nem bebem nada, inclusive água, do nascer ao pôr do sol, a fim de afligirem a alma e, com isso, encobrirem suas transgressões.

Os católicos se abstêm de comerem carne vermelha na sexta-feira santa, dia da crucificação e morte de Jesus, com o objetivo de partilharem do Seu sofrimento.

A Igreja Reformada, por sua vez, observou a prática do jejum desde sua fundação, visando a crucificação do homem exterior (carne) e seu despertamento para a vontade de Deus. No entanto, nos dias atuais, ela vem sendo negligenciada pelo corpo de Cristo, por isso é tão importante seu estudo, entendimento e resgate. 

Por intermédio do jejum, a criatura se humilha diante do seu Criador, sacrificando a satisfação da carne, através do alimento, para se tornar mais sensível ao Espírito do Senhor.

A abstinência alimentar deve ser acompanhada pelas orações dos santos, a fim de se arrependerem de seus pecados e serem transformados conforme a vontade de Deus. Esse é o jejum que agrada ao Senhor.

A privação de alimentos sem o quebrantamento do espírito e o abandono das transgressões não era/é recebido por Deus, como se constata no livro do profeta Isaías (Is. 53:3-8):

Por que jejuamos, dizem, e não o viste? Porque nos humilhamos, e não reparaste? Contudo, no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês, e exploram os seus empregados.

Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto.

Será que o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre o pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam de jejum, um dia aceitável ao Senhor?

O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo?

(…)

Aí sim, você clamará ao Senhor, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou.

Por tudo isso, se vislumbra a urgência do estudo dessa disciplina espiritual, para que ela seja regatada e praticada pela Igreja do Senhor de maneira que O agrade.

Os Tipos de Jejuns

A Bíblia não apresenta uma classificação dos tipos de jejuns. Entretanto, ao longo do tempo, foi possível aos estudiosos fazê-lo observando alguns exemplos deixados no Livro Sagrado.

Apesar disso, esse feito serve apenas para inspiração dos cristãos, já que a disciplina não foi regulamentada por Deus, havendo, portanto, liberdade na sua prática.

Ou seja, o tempo, o modo e a duração do jejum serão definidos por quem o fizer, da maneira pela qual se comprometer com o Senhor.

Citando Martinho Lutero, o pastor Luciano Subirá (2022, p. 169) afirma que “Ele não fixa um tempo determinado, por quanto tempo jejuar (…), mas deixa o indivíduo decidir como fazê-lo”.

Inclusive, há os que, ao invés de se absterem de alimentos, fazem privação de outros prazeres, também considerados lícitos, com o intuito de mortificarem a carne, tais como: sexo, entretenimentos, guloseimas, dentre outros.

Ainda que tais jejuns sejam válidos, pois segundo Leonard Ravenhill (1907-1994) “o entretenimento se tem tornado o substituto diabólico da (verdadeira) alegria”, eles devem apenas complementar a exclusão alimentar para um tempo maior de busca e dedicação a Deus e não substituí-la, já que, como visto, a essência da palavra jejum é não comer.

Imagine se o cristão moderno dedicasse todo tempo que passa em frente às mais diversas telas para se entreter, orando, louvando, examinando as Escrituras, tudo isso aliado ao jejum, como não estaria o seu relacionamento com o Senhor?

O problema é que eles se satisfazem tanto com as coisas desse mundo, que perdem o apetite por Deus, por isso não O buscam por meio daquelas disciplinas espirituais.

Jeff Fromholz (2008) declara:

A realidade é que nós não temos nenhuma fome por Ele porque já temos nos deleitado no banquete deste mundo. Passamos pelo bufê onde podemos comer à vontade, que parece ser o objetivo do freguês e não somente propaganda do restaurante, tantas vezes que de fato não há nenhum espaço mais em nós pra Ele, ao menos que seja como uma menta depois do jantar. E isso é como a maioria da igreja trata Ele, como uma pequena menta que não toma muito tempo nem lugar, mas traz um pouquinho de ar fresco e bom hálito na sua vida.

O jejum auxilia os crentes a reverem seus valores, a questionarem seus alvos e refletirem quem, de fato, tem controlado suas vidas; pois, através dele, eles mortificam suas carnes e se tornam mais sensíveis à voz do Espírito de Deus que os convence de suas transgressões.

Portanto, a prática dessa disciplina deve fazer parte da vida de todo cristão verdadeiro, que tem fome do Senhor e que se preocupa com as coisas eternas.

Feitas tais considerações, extrai-se das Escrituras três tipos de jejuns: o total, o normal e o parcial. A eles o pastor Luciano Subirá acrescenta o sobrenatural. (SUBIRÁ, 2022, 174).

Jejum Total

Há tanto abstinência de alimentos, quanto de água. Tendo em vista que dela dependem a saúde e as funções mais básicas do organismo do ser humano, não se pode privá-la por mais de três dias, sob pena de desidratação intensa e prejuízos graves ao corpo. Há na Bíblia alguns personagens que se aventuraram nesse jejum com intuitos específicos e alcançaram a misericórdia de Deus.

No Antigo Testamento, Ester orienta o povo a não comer, nem beber nada durante três dias, antes que ela se apresentasse ao rei, sem ser convidada, para interceder por seu povo (Et. 4:16). O rei de Nínive também decretou jejum total por três dias a todos os ninivitas, incluindo os animais, para alcançarem a misericórdia do Senhor e não serem destruídos (Jn. 3:7).

No Novo Testamento, Paulo, após ter um encontro com Jesus e ficar cego, ficou três dias sem comer e sem beber nada, se consagrando a Deus (At. 9:9).

Jejum Normal

Há apenas a privação alimentar, com ingestão de água. É o mais comum.

Esse foi o jejum realizado por Jesus antes de iniciar seu ministério. Ao ser levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo, Ele jejuou por quarenta dias, findo dos quais teve fome (Mt. 4:1-2).

Como homem, era impossível ao Filho de Maria passar quarenta dias em um deserto sem beber água, por isso, ao finalizá-lo, teve fome e não sede.

Jejum e a Tentação de Jesus

As Escrituras associam o jejum efetuado por Jesus à tentação que Ele sofreu no deserto.

Primeiramente, é importante esclarecer que, apesar de a tentação ao Filho de Deus provir de satanás, ele foi mero instrumento do Senhor, já que foi Seu próprio Espírito que o conduziu ao deserto com aquela finalidade.

Lá, Jesus jejuou por quarenta dias e quarenta noites, a fim de se consagrar e se preparar ao ministério que o Pai O confiou; findos quais teve fome.

Citando Calvino, William Hendriksen (2000, p. 160) defende:

Havia duas razões porque Cristo se retirou para o deserto: Primeiro, que, após um jejum de quarenta dias, pudesse ele surgir como um novo homem, ou, antes, como homem celestial, para desincumbir-se de seu ofício. Segundo, para que pudesse ser provado pela tentação e passar por um aprendizado antes de empreender uma tarefa tão árdua e tão sublime.

Aproveitando-se da vulnerabilidade do Filho de Maria, o diabo apelou às suas necessidades físicas: “se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães”.(Mt. 4:3). Certamente, a fome que o Mestre sentia não era a de quem pulou duas refeições, mas de alguém que já tinha utilizado toda sua reserva de gordura para sobreviver debaixo de um sol escaldante.

É nesse contexto que satanás “lembra” Jesus quem Ele era: o próprio Deus Poderoso. Seu intuito era fazê-Lo retomar os atributos dos quais Ele se havia esvaziado, conforme leciona o Apóstolo Paulo aos Filipenses (2:7-8) e, com isso, frustrar o plano eterno do Senhor. Ou seja, seu objetivo era levá-Lo a desobedecer a Deus.

Se Jesus transformasse aquelas pedras em pão para alimentar sua carne, Ele estaria, não apenas cedendo à tentação do inimigo; como também, retomando seus “privilégios” divinos, deixando de ser igual à sua criatura e, portanto, inapto a representá-la na cruz.

Percebe-se, aqui, uma semelhança ao plano da serpente, no Éden, com Adão. Ela instigou o primeiro casal a “ser como o Senhor”, o que os levou a desobedecê-Lo. Em ambas as tentações, o diabo busca as fraquezas humanas, a fim de levar o homem a se rebelar contra seu Criador.

Com o primeiro Adão, deu certo. Ele e sua mulher desobedeceram a Deus e toda criação, até hoje, sofre as consequências de suas quedas.

Com o último Adão, entretanto, o resultado foi diferente: Ele triunfou sobre a tentação, sobre o pecado e sobre satanás, sendo obediente ao Senhor até morte. Apesar de tentado, Ele declarou: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. (Mt 4:4).

Nas Palavras de Fritz Rienecker:

Citando Dt 8, Jesus esclarece que Deus também é capaz de sustentar a vida humana com outros meios que com o pão, p. ex., também com o maná! Sim, Deus até pode alimentar e sustentar o ser humano sem qualquer meio material, apenas pela mera força de sua vontade. (RIENECKER, 1998, p. 40).

Apesar da fraqueza física, do estômago vazio e do corpo debilitado, Jesus estava espiritualmente forte, porque havia se alimentado do pão do céu, por isso venceu satanás.

Segundo o Reverendo Hernandes Dias Lopes, após tantos dias em jejum, Ele estava se deleitando no Senhor. Sua abstinência alimentar havia transformado a aridez do deserto num jardim de oração. (2006, p. 27).

Jejum Parcial

Consiste na restrição de determinados alimentos; sendo assim, seu praticante pode ingerir tudo o que não se propôs a abster.

O maior exemplo de jejum parcial foi o realizado por Daniel, que se privou dos manjares desejáveis, bem como de carnes e vinhos durante três semanas (Dn. 10:3).

Por ser menos rigoroso, esse tipo de jejum é o fácil de ser realizado, por isso, os iniciantes devem preferi-lo até adaptarem seus corpos e mentes e, então, se aventurarem no normal e/ou total.

No livro a Cultura do Jejum, Luciano Subirá acrescenta o jejum sobrenatural. (SUBIRÁ, 2022, p. 174).

Jejum Sobrenatural

Foi o realizado por Moisés no Monte Sinai, quando recebeu as tábuas da lei. De acordo com a Bíblia, o filho de Joquebede não comeu, nem bebeu água durante os quarenta dias em que esteve mergulhado na glória de Deus (Ex. 34:28).

Muitos consideram que Elias teve a mesma experiência de Moisés. Segundo consta, o profeta foi alimentado por um anjo do Senhor e, com a força daquela refeição, caminhou por quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus (1 Rs. 19:5-8).

No testemunho do irmão Yun, narrado no livro O Homem do Céu, ele declara ter ficado setenta e quatro dias sem ingerir qualquer alimento ou água (YUN, 2005, p. 120).

Óbvio que tais feitos são sobrenaturais e só foram possíveis, porque Deus os possibilitou. Ninguém que não tenha uma orientação clara e específica do Senhor nesse sentido deve se aventurar nesse tipo de jejum, sob pena de desfalecer. Isso é irresponsabilidade.

Duração do Jejum

Como supramencionado, não há um limite, máximo ou mínimo, estabelecido na Bíblia do quanto jejuar. Dessa forma, todos os tipos de jejuns podem ser realizados pelo tempo determinado pelo próprio promitente, a menos que ele receba uma orientação específica do Espírito Santo.

A Palavra de Deus apresenta jejuns de um dia, como o dia da expiação; de três dias, como o de Ester; de sete dias, como o realizado por Davi enquanto intercedia pelo filho de Bate-Seba; de vinte e um dias, realizado por Daniel e o de quarenta dias, efetuado por Jesus.

Mais importante do que o tempo é o próprio jejum. Isso significa que ninguém deve deixar de fazê-lo, por não conseguir ficar quarenta dias sem comer; antes, é necessário praticá-lo, sempre, progressivamente, de modo que ele se torne habitual na vida do cristão.

O Jejum na Perspectiva de Jesus

O Santo Livro não regulamenta o jejum, não obriga ninguém a fazê-lo, não torna mais espiritual quem o pratica, muito menos o estabelece como requisito de salvação. Todavia, quando se analisa os ensinos de Jesus, conclui-se que existia em seu coração uma expectativa de que seus discípulos o fariam, quando Ele fosse assunto aos céus.

O mesmo ocorre em relação às esmolas e às orações; apesar de não existir um mandamento escrito nesse sentido, todo cristão sabe que deve fazê-los.

No Evangelho de (Mt. 6:2-4), o Mestre declara:

Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa.

Mas, quando você der esmola, que sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará.

Ou seja, Jesus esperava que seus seguidores ajudassem os menos favorecidos, de modo que quando o fizessem a qualquer um desses pequeninos, a Ele o fariam (Mt. 25:40).

E Ele continua (Mt. 6:5-6):

E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa.

Mas, quando você orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então, seu Pai, que vê no secreto, o recompensará.

Isto é, o Filho de Deus tinha esperança de que seus discípulos orariam ao Senhor, apesar de inexistir qualquer decreto que os ordenassem.

No mesmo texto, Jesus aborda o jejum de forma semelhante (Mt. 6:6-18):

Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa.

Ao jejuar, ponha óleo sobre a cabeça e lave o rosto para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê no secreto. E seu Pai, que vê no secreto, o recompensará.

Isso significa que, da mesma maneira que existia no coração do Mestre uma expectativa de que os cristãos dariam esmolas e orariam, havia de que eles jejuariam; por isso, o evangelista usou um advérbio temporal à prática dessas disciplinas e não uma conjunção condicional.

Então, porque as esmolas e as orações são matérias inquestionáveis à maioria dos cristãos, mas o jejum é tão polêmico e divergente nos dias atuais, se todos são tratados na Bíblia da mesma maneira?

Esse é um questionamento que cabe a cada um responder, após uma autorreflexão, porque a Palavra de Deus é clara quanto a essas disciplinas.

Mas, para corroborar essa ideia deve-se somar os escritos de Lucas aos de Mateus (Lc. 5:33-35):

E eles disseram a Jesus: Os discípulos de João jejuam e oram frequentemente, bem como os discípulos dos fariseus; mas os teus vivem comendo e bebendo.

Jesus respondeu: Podem vocês fazer os convidados do noivo jejuar enquanto o noivo este com eles?

Mas, virão dias quando o noivo lhes será tirado; naqueles dias jejuarão.

“Apenas” por esses textos a vontade de Deus de que seus filhos tenham uma vida de jejum e oração já se torna evidente. Mas, não é só isso.

O seu Primogênito, enquanto homem, deu o exemplo aos seus irmãos se abstendo de qualquer tipo de comida por quarenta dias, findos quais teve fome. Por isso, é fundamental que essa prática seja resgatada pela Igreja Moderna.

Além de evidenciar a expectativa que Jesus tinha em seu coração de que seus discípulos jejuariam, ele ainda traçou diretrizes de como fazê-lo, o que realça sua necessidade.

Segundo o Mestre, sempre que os cristãos tiverem em abstinência alimentar devem fazê-lo em secreto, sem a intenção de se exaltarem, porque aqueles que o praticam com esse fim já receberam a sua recompensa.

Hernandes Dias Lopes afirma que os fariseus e os escribas tornaram não apenas o jejum, mas a religião como um todo num fardo pesado, ao invés de um instrumento libertador. Fizeram dele um ritual para a sua própria exibição e não a expressão de um coração quebrantado. (2006, p. 76).

Apesar dessa desconfiguração, os discípulos de Cristo deveriam jejuar, mas da maneira correta. Ou seja, durante suas privações alimentares, eles deveriam lavar seus rostos, colocar óleo sobre suas cabeças para não parecer que estavam jejuando, então seriam recompensados pelo Pai que os vê em secreto.

É evidente que o ato de se jejuar não é um segredo de Estado, se o fosse não teríamos os inúmeros exemplos descritos nas Sagradas Escrituras. O que Jesus estava criticando, na ocasião, era a intenção dos seus praticantes.

Os fariseus jejuavam duas vezes por semana, quando se mostravam tristes, cansados e apáticos. Colocavam cinzas sobre suas cabeças e, com isso, todos exaltavam a religiosidade deles.

O Filho de Deus, contudo, instruiu seus discípulos a manterem suas aparências e suas vidas normais perante os homens, durante o período de abstinência alimentar, enquanto, em secreto, intensificavam seu relacionamento com o Senhor.

Nesse sentido, o jejum deve, sempre, ser acompanhado de oração e uma busca intensa por Deus.

Nas privações alimentares mais prolongadas é natural que as pessoas precisem seguir suas vidas normalmente, não tem problema; entretanto, é fundamental que elas separem períodos para estarem a sós com o Senhor e meditarem na Sua Palavra.

Ademais, o Apóstolo Paulo ensina que os cristãos devem orar sem cessar. (1 Ts. 5:17). Assim, é possível, não apenas durante o jejum, manter uma vida de oração em espírito, enquanto as atividades seculares são realizadas.

Apesar de constituir uma expectativa do coração de Cristo, essa privação alimentar dos santos deve ser feita com a finalidade correta, a fim de ser aceita pelo Senhor.

Assim, jejuar para perder peso, barganhar com Deus, merecer favores Dele não constituem motivações aceitas por Ele; por isso, aqueles que possuem essas metas estão apenas passando fome; fazendo a coisa certa da maneira errada.

O pastor Luciano Subirá afirma que um jejum cujo propósito secundário, seja qual for ele, atropela o primário (buscar a Deus) está errado em sua essência. Trata-se fazer o certo: praticar o jejum, de forma errada: motivação imprópria (SUBIRÁ, 2022, p. 152).

A finalidade primária dessa abstinência alimentar deve ser buscar ao Senhor de forma intensa, de modo que a carne seja açoitada e o espírito se torne mais fervoroso na oração (HYDE, 2016?)

O fim do jejum deve ser alcançar um espírito quebrantado, contrito e humilhado diante de Deus, de modo que o pecador reconheça suas transgressões, as confesse e deixe; vivendo em constante santificação.

Mahersh Chavda (2002, p. 82) afirma que:

Quando nos humilhamos diante de Deus, nosso primeiro anseio deve ser por ele. Deveríamos nos humilhar para buscar a sua face, não meramente o seu favor. “Queremos o Senhor, acima de tudo, queremos o Senhor. Queremos sua glória e sua presença.

Seu intuito deve ser “tirar o entulho”, ou seja, tudo o que atrapalha o homem de ouvir à voz Espírito Santo, tornando, assim, sua alma maleável ao Seu trabalhar.

Enfim, o jejum não muda a vontade do Senhor, mas muda o cristão que passa a buscar Sua soberania em todas as áreas da vida. Conclui-se que Jesus não apenas ensinou acerca do jejum, a fim de que ele fosse praticado por seus seguidores da maneira correta, como também o experimentou, por quarenta dias, evidenciando, com isso, sua importância à Igreja.

Os Efeitos do Jejum

Citando Agostinho de Hipona, o pastor Luciano Subirá (2022, p. 123) afirma:

O jejum limpa a alma, levanta a mente, submete a carne ao espírito, torna o coração contente e humilde, dispersa as nuvens da concupiscência, apaga o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz da castidade.

Aludindo Kenneth E. Hagin, o autor Luciano Subirá (2022, p. 123) declara que “jejuar não muda o Senhor, pois Ele é o mesmo antes, durante e depois do seu jejum, mas transformará e ajudará você a se manter mais suscetível ao Espírito de Deus”.

Nas palavras de John Wesley (SUBIRÁ, 2022, p. 123), ele leciona que “o jejum é um meio da graça, e não uma forma de excluí-la; logo, não deve ser visto como um ato meritório”.

Ou seja, como supramencionado, a nossa abstinência alimentar não muda a Deus e nem nos torna merecedores de nada. Contudo, é inegável que sua prática produz efeitos na vida de seus praticantes como um todo, isto é, corpo, alma e espírito.

De acordo com Luciano Subirá, ele fortalece o espírito, aflige a alma e subjuga o corpo (SUBIRÁ, 2022, p. 138).

Segundo o pastor, apesar de experimentar o novo nascimento, a carne do ser humano não se converte, mas precisa ser mortificada todos os dias. Já o seu espírito é vivificado em Deus e quer buscá-Lo intensamente (SUBIRÁ, 2022).

Daí a guerra sobre a qual o Apóstolo Paulo alertou os cristãos no livro de Gálatas (Gl 5:17) entre a carne o Espírito: “porquanto a carne luta contra o Espirito, e o Espírito, contra a carne. Eles se opõem um ao outro, de modo que não conseguis fazer o que quereis”.

É nesse sentido que o espírito é fortificado pelo jejum: ele é alimentado e fortalecido, enquanto a carne, em abstinência, é mortificada e enfraquecida, perdendo, assim, a guerra existente entre eles.

Aquele autor defende ainda que, por meio do jejum, se conquista uma maior sensibilidade espiritual (SUBIRÁ, 2022). Ou seja, o cristão se torna mais sensível à voz do Espírito Santo, podendo, com isso, obedecê-Lo.

São poucas as pessoas que, audivelmente, ouvem ao Senhor. Porém, o Seu Espírito ministra ao espírito de todos os que nasceram de novo. O que acontece é que grande parte dos cristãos não ouvem a Sua voz, por isso acabam se desviando dos seus caminhos.

A prática do jejum, no entanto, “limpa” essa comunicação tornando o crente mais sensível à voz do Espírito do Senhor.

Outro efeito dessa disciplina espiritual é a aflição da alma, porque ela tira o cristão do controle de sua vida (SUBIRÁ, 2022).

Jejuar tem a ver com esvaziarmo-nos de nós mesmos para que nos enchamos de Deus. Tem a ver com reconhecer nossa limitação e fraqueza para conseguir depender da graça e da capacitação divina.

(…)

O jejum traz à tona o pior que se encontra escondido em nós, e isso é, por certo, uma aflição à alma, com efeitos sobre a nossa mente, nossos sentimentos e, graças a Deus, sobre as nossas decisões. Contudo, é a partir dessa contrição, dessa aflição da nossa alma, que nós nos permitimos ser tratados pelo Senhor. (SUBIRÁ, 2022, p. 142).

Tratados em suas almas, os cristãos passam a submetê-las ao seu espírito, o qual está rendido ao Espírito de Deus.

Instrui, por fim, Subirá que o jejum mortifica a carne. (SUBIRÁ, 2022, p. 142).

Citando Clemente de Alexandria, Subirá (2022, p. 143)(apud Eclogae, 2016) afirma:

O jejum tem uma significação profunda: assim como o alimento é o símbolo da vida, e a abstinência de alimentos é o símbolo da morte, do mesmo modo nós, os seres humanos, devemos jejuar no sentido de morrermos para este mundo e, depois disto, tendo recebido o alimento divino, viver em Deus.

Nas palavras de Lutero, Subirá (2022, p. 143) declara que “é correto jejuar com frequência com a finalidade de subjugar e controlar o corpo”.

Isso significa que através dos jejuns, os cristãos crucificam seus corpos, seus prazeres juntamente com Cristo e passam a ter domínio próprio, pois não são mais controlados pela carne, mas pelo Espírito de Deus.

Agindo, assim, podem, finalmente, declarar (Gl. 2:20): “fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.

Conclusão

Jejuar não é fácil, isso porque, como exaustivamente demonstrado, não se trata apenas de uma abstinência alimentar, mas de uma disciplina espiritual que subjuga o corpo, a alma e o espírito do pecador.

Jejuar é, na verdade, entrar em batalha espiritual, porque satanás fará de tudo para levar o cristão a desistir, como tentou fazer com Jesus no deserto.

No entanto, toda essa luta vale a pena, quando se tem os olhos fixos em suas recompensas. Isto é, quando se visa mais intimidade com o Senhor, mais profundidade em Deus, mais sensibilidade à Sua voz e, com isso, mais obediência à sua Palavra.

Sem dúvidas, esses galardões superam toda e qualquer dificuldade que o crente possa encontrar no meio do caminho.

O pastor Luciano Subirá tem razão ao declarar que bom não é jejuar, mas ter jejuado. Porque, colher os frutos dessa privação é, de fato, algo inexplicável.

Portanto, ore, jejue e leia a Bíblia constantemente para conhecer ao Senhor, obedecê-Lo e, assim, ser abençoado.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LOPES, Hernandes Dias. Marcos O Evangelho dos Milagres. Hagnos. 2006.

PLASS, Ewald M. What Luter Says, vol: 1, p. 506. Concordia Publishing House. 2006.

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SUBIRÁ, Luciano. O Jejum. Letras Santas.Disponível em <https://pdfslide.net/documents/evangelico-luciano-subira-o-jejumpdf.html>. Acesso em: 15 de set. de 2022.

YUN. O Homem do Céu. Betânia. 2005.

Obs.: Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano Renovado Brasil Central

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