O livro Educar na Curiosidade é simplesmente maravilhoso. Ele nos leva a refletir a respeito do que estamos fazendo com os nossos filhos.
Muitas vezes, pensamos que quanto mais estímulos, quanto mais aulas, quanto mais atividades melhor e nos esquecemos que o mais importante é a nossa presença, a qualidade do tempo que oferecemos a eles lhes proporcionando amor, carinho, afeto e segurança… é isso que os farão crescer fortes, seguros, autônomos e inteligentes.
A autora inicia seu livro nos ensinando acerca da curiosidade e sua importância no desenvolvimento da criança, tudo fundamentado em estudos e evidências científicas que fazem cair por terra inúmeras crendices populares.
A curiosidade é intrínseca ao ser humano; ou seja, à medida que vamos nos desenvolvendo, somos atraídos pelas coisas que nos cercam e isso nos faz descobrir o mundo. Ela é a motivação interior da criança, a sua estimulação natural.
Tomás de Aquino afirmava que a admiração é o desejo do conhecimento. É a curiosidade que provoca o interesse das pessoas.
As pequenas coisas motivam a criança a aprender, a satisfazer a sua curiosidade, a ser autônoma para entender os mecanismos naturais dos objetos que a rodeia por meio da sua experiência com o cotidiano. Só temos de acompanhar a criança, proporcionando-lhe um ambiente favorável para a descoberta.
Quando expomos uma criança pequena a estímulos externos, de tal maneira que estes superam a sua curiosidade, anulamos a sua capacidade de motivar-se por si mesma. Substituir o que move a pessoa é anular a sua vontade.
Por fim, a criança acomoda-se e não é capaz de encantar-se, nem de espantar-se com nada. O seu desejo é bloqueado. Em alguns casos, a sua dependência da super estimulação fará com que procure sensações cada vez mais fortes, com as quais também se acostumará, fato que a levará a uma situação de apatia permanente, de falta de desejo, de tédio.
Como podemos conseguir que uma criança, que rapidamente será um adolescente, faça as coisas com encanto? Que pense antes de agir, ao observar, com calma e quieta, as coisas ao seu redor? Que tenha interesse em conhecer o que a cerca? Que esteja motivada para aprender?
É necessário deixar fluir e proteger a admiração, a curiosidade…
O problema é que queremos que os nossos filhos sejam mini adultos, por isso os super estimulamos colocando-os nas escolas cada vez mais precocemente, os super ocupamos com atividades extracurriculares e ainda os submetemos às telas… fazemos tudo isso sem ponderarmos se, de fato, teremos os resultados que esperamos e os impactos que gerará nessas crianças.
A verdade é que, contrariando a crença popular, não existem provas neurocientíficas que justifiquem começar a educação formal o quanto antes.
Algo parecido acontece com os milhares de jogos, DVDs, CDs e videojogos que “pretendem melhorar a inteligência dos nossos filhos” e que alimentam a crença popular …vários estudos demonstram que não existe relação alguma entre o consumo desses produtos e a aprendizagem da linguagem ou de outros idiomas, alguns, inclusive, chegaram a estabelecer uma relação entre o consumo de DVDs com pretensões educativas e uma diminuição no vocabulário dos bebês e no seu desenvolvimento cognitivo.
De fato, a Academia Americana de Pediatria (e a Sociedade Brasileira de Pediatria) recomenda que as crianças evitem as telas até os dois anos de idade, pois os estudos indicam que estes produzem mais efeitos negativos do que positivos.
Além disso, os estudos recentes não encontraram provas de que as telas trazem benefícios do ponto de vista educativo para as crianças; pelo contrário, está comprovado que o bombardeamento externo de estímulos não torna as crianças mais espertas como também começaram a surgir, nos últimos anos, estudos que relacionam a super estimulação com problemas de aprendizagem.
Como dizia Siegel, a criança precisa de um ambiente normal, uma quantidade mínima de estímulo. Nem mais nem menos.
A criança não precisa que desenhemos à força os circuitos neuronais no seu pequeno cérebro. Ela possui um motor interno que a leva a descobrir sozinha: a curiosidade.
O protagonista da educação não é o método que se utiliza, nem a quantidade de estímulos, nem sequer o educador. Voltemos ao que dizia Montessori: a criança é protagonista da sua educação.
O principal cuidador age como um intermediário entre a criança e a realidade, como base de exploração.
Se a relação com o cuidador é segura, a criança irá cada vez mais longe para explorar. Se, não há um vínculo de confiança entre a criança e os seus pais, ela será insegura e não explorará com segurança o que a rodeia.
Portanto, o segredo para obter uma melhor preparação para o processo cognitivo e um bom desenvolvimento da própria personalidade está na qualidade da relação que a criança tem com o seu principal cuidador durante os primeiros anos de vida.
Se você quer oferecer ao seu filho uma educação baseada em evidências, bem como proteger sua infância e assegurar seu desenvolvimento seguro, vale a pena a leitura desse livro.